domingo, 23 de novembro de 2014

Amigdalite, Faringite e Laringite...Como se distinguem ?

Muitas vezes estas doenças, tendem a ser confundidas (localizam-se todas na boca) e muitas vezes não são bem compreendidas. Por este motivo, decidi “falar” de cada uma, de forma a perceberem os sintomas, as semelhanças e as diferenças entre as três patologias.



Amigdalite
O que é?
É uma infeção das amígdalas que são duas proeminências de tecido linfoide (que desempenham uma função defensiva) localizadas nas faces laterais da orofaringe. O tecido interno das amígdalas tem a capacidade de detetar, identificar e eliminar os agentes infeciosos (vírus e bactérias). Esta função defensiva é muito importante durante a infância, mas a partir da adolescência o seu papel diminui (há exceções), motivo pelo qual é nesta fase que é mais frequente a amigdalite. A infeção bacteriana (necessário antibiótico) é mais prevalente a partir dos 3 anos, mas também pode ser originada por vírus (mais frequente até aos 2 anos de idade). Dentro das bactérias o estreptococos do grupo A é o agente mais encontrado e nos vírus encontramos o EBV (da mononucleose), Influenza e Parainfluenza.

Como se manifesta?
Maioritariamente, inicia-se de forma súbita, com os seguintes sintomas associados:
         - Febre alta (muito alta, com picos por vezes de 40ºC em 4h/4h que se inicia com arrepios e tremores na maioria dos casos)
         - Dor de garganta, voz nasalada
         - Dores de cabeça
         - Mal-estar geral / Prostração (diminuição da atividade)
         - Aumento dos gânglios do pescoço (órgãos de defesa também)

Modo de contágio
Quando alguém infetado, espirra, tosse ou fala, libertando partículas de saliva. Muito frequente nos infantários (na mesma sala) ou no agregado familiar.

Diagnóstico
É quase sempre baseado na observação clínica do doente (história clínica, características das amígdalas). É frequente nas urgências ser feita a análise “do cotonete” (exsudado) que dará um resultado em 10 a 15 minutos (por vezes existem falsos negativos).

Tratamento
         - Antipiréticos (para baixar a febre – Ben-u-ron/Brufen nas doses corretas).
         - Antibiótico (se for bacteriana: o mais frequente)
         - Alimentação líquida à temperatura ambiente e sem insistência (não esquecer que a criança habitualmente tem dificuldade em engolir a saliva, quanto mais comida…).

Evolução
          - Habitualmente a evolução é favorável, com melhoria após as 48h de antibiótico.
         - Em algumas situações, as amigdalites tornam-se crónicas (múltiplos episódios sucessivos) e nestes casos há necessidade de cirurgia para extração ou diminuição das amígdalas (o Otorrinolaringologista é soberano nesta decisão, após avaliação da história clínica).

Faringite
O que é?
É uma inflamação da faringe, localizada entre as amígdalas e a laringe (é a “parede” da garganta) provocada, em geral, por vírus mas também com frequência por bactérias.

Como se manifesta?
Habitualmente, surge de forma mais insidiosa ou seja mais lenta.
         - Febre (habitualmente não tão alta como na amigdalite)
         - Dor de garganta (por vezes mais intensa que na amigdalite)
         - Mal-estar geral (prostração não é tão habitual)
         - Aumento dos gânglios do pescoço (de igual maneira)

Modo de contágio
Igual à da amigdalite (partículas de saliva infetadas)

Tratamento
         - Antipiréticos e anti-inflamatórios (para baixar a febre e diminuir a inflamação)
         - Antibióticos, se for de origem bacteriana (menos frequente que na amigdalite)
         - Alimentação líquida (do mesmo modo que na amigdalite)

Evolução
Habitualmente favorável e transitória (3 a 5 dias) se for viral. Igual evolução à da amigdalite se for de origem bacteriana (necessário antibiótico).

Laringite
Ver artigo anterior


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Laringite

A Laringite é uma infeção respiratória superior aguda, que causa inflamação da laringe (engloba as cordas vocais). Inicia-se geralmente durante a noite e afeta, sobretudo, crianças dos 6 meses aos 3 anos podendo ocorrer, também, em crianças mais velhas. É mais frequente no Outono e Inverno. Esta doença, apesar de não ter habitualmente grande gravidade, pode provocar edema (“inchaço”) da laringe, cordas vocais e traqueia, obstruindo a passagem de ar pelas vias aéreas, causando falta de ar. O sintoma mais frequente é a “Tosse de Cão” (tosse rouca exuberante).
Quadro clínico
- Rinorreia (“ranho”) com ou sem obstrução nasal.
- “Tosse de cão” e rouquidão de início súbito (que pode passar a tosse com expetoração cerca de 48h depois e que pode durar até 3 semanas para desespero das mães…).
- Febre (pode ser elevada e dura aproximadamente 3 dias).
- Vómitos (na sequência da tosse).
- Falta de ar (habitualmente com um barulho semelhante a um “guincho”- Estridor Laríngeo, que traduz a dificuldade do ar a passar pelas cordas vocais inflamadas).

Causa
- Origem viral (Influenza, Parainfluenza, VSR, Adenovírus) e portanto transitória e autolimitada (maioria dos casos).
- Origem bacteriana (raro).
         - Causa Alérgica.
         - Refluxo Gastro-Esofágico.

Modo de Transmissão e Período de Incubação
- Via inalatória (proveniente da saliva, tosse e espirros de crianças infetadas, no ambiente).
- 1 a 3 dias depois da exposição, desenvolvem-se os sintomas.

Tratamento
- Antipiréticos (medicamentos para a febre – Benuron/Brufen).
- Aerossóis com soro ou com medicação anti-inflamatória (corticoides).
- Anti-histamínicos orais (xaropes) em determinadas situações.
- Antibiótico, se o médico entender que é de origem bacteriana.
- Na altura em que surge a “tosse de cão” (habitualmente de noite), deixar a criança respirar o “ar frio” (“passa” nas cordas vocais, funciona como anti-inflamatório e melhora a falta de ar.)
As crianças que apresentem estes sintomas, devem ser observadas, preferencialmente pelo seu médico assistente (nunca esquecer que as urgências são autênticas “estufas” de infeções. As crianças vão por uma doença e “trazem” uma série delas…). Contudo, se notarem falta de ar, sobretudo durante a noite, devem recorrer ao Hospital.

domingo, 9 de novembro de 2014

Infeção por Legionella Pneumophila

O que é a Legionella Pneumophila?

       É uma bactéria que está presente em reservatórios de água naturais (lagos, rios) ou artificiais (condutas de água doméstica, refrigeradores, ar condicionado, piscinas, termas) ou também em ambientes de grande humidade. Este microrganismo é resistente aos desinfetantes comuns.



Modo de transmissão e Período de incubação

        Através da inalação do vapor de água (via aérea) contaminada com a bactéria. Não se transmite pela ingestão de água contaminada, nem de pessoa a pessoa. É, portanto, mais comum nas piscinas, nas grandes superfícies com ar condicionado (hipermercados, centros comerciais) ou nas próprias casas, se o reservatório de água da companhia, estiver contaminado. O período de incubação vai de 2 a 10 dias.

      Quem são os grupos de risco?

- Idade superior a 50 anos

- Doenças respiratórias associadas (Asma, Bronquite)

- Doenças crónicas (Diabetes, Doenças cardíacas, Cancro)

- Tabagismo, Alcoolismo

Nas crianças, habitualmente a infeção tem uma evolução benigna e favorável.

  O Quadro Clínico habitual é de Pneumonia, cujos Sintomas são os seguintes:

- Febre, mal-estar, dores musculares

- Dor de cabeça

- Tosse, com ou sem expetoração

- Náuseas, vómitos, diarreia

        Como se faz o Diagnóstico?

Como em toda a medicina, o exame clínico é fundamental (hoje em dia, infelizmente, são pedidos batalhões de exames e muitas vezes o médico nem toca no doente…!)



- Exame clínico (observação do doente)

- Análises de sangue

- Análise à expetoração

- Serologia para Legionella Pneumopila


        Complicações possíveis

- Dificuldade respiratória e necessidade de ventilação mecânica

- Falência multiorgânica e morte


        Tratamento

- Terapêutica sintomática (para febre e dores)

- Antibióticos 
Quinolonas (Ciprofloxacina, Levofloxacina)
Macrólidos (Azitromicina, Eritromicina, Claritromicina)
 
- Medicação para a tosse (aerossóis, Xaropes)

- Oxigénio em SOS

        Como prevenir esta infeção, no geral?

- Sistemas de reservatório de água sempre com controlo bacteriológico

- Manter os sistemas de ar condicionado sempre limpos (por isso, nas minhas consultas digo sempre que o ar condicionado é o melhor sistema de aquecimento/arrefecimento, mas os filtros devem ser limpos todos os meses!)

- Não usar água de poços para consumo

- Nesta fase atual (surto sem origem conhecida), não frequentar piscinas, não tomar banho com vapor (duches, jacuzzi, banho turco) e cozinhar com água engarrafada.

   Esta infeção pode apresentar risco de vida, se não for tratada. A taxa de mortalidade aumenta consideravelmente em doentes com doenças crónicas de base. Se o diagnóstico e tratamento forem efetuados atempadamente a doença evolui, na maior parte dos casos, de forma favorável. 

sábado, 1 de novembro de 2014

Síndroma Mãos-Pés-Boca

          Esta doença é mais frequente até aos 4 anos, mas pode atingir crianças maiores, adolescentes e adultos, apesar de ser mais raro. A infeção é causada pelo Coxsackie A16 do grupo dos Enterovírus - trata-se, então, de uma virose.



Modo de Contágio e Período de Incubação


Através do contacto direto, contacto com objetos contaminados (brinquedos com saliva) ou contacto com as mucosas infetadas (boca).
O período de incubação mais frequente é de 3 a 5 dias (podendo durar até 1 semana)
As crianças infetadas não devem frequentar o infantário durante 1 semana.
Quadro clínico
- Febre (não muito alta)
- Irritabilidade
- Perda de apetite
- Recusa em comer (pelas lesões na boca)
- Bolhas / úlceras / “aftas” na boca (“céu-da-boca”, língua, gengivas e zona à volta da boca)
- Erupção cutânea (manchas /“pintas”/bolhas. Estas lesões são parecidas com a varicela, mas distinguem-se pela localização) nas mãos, pés, boca e zona genital
- Pode existir comichão nas mãos e pés

Evolução da Doença
         Os sintomas e sinais desta doença vão evoluindo ao longo de 3 a 4 dias e só cerca de 1 semana termina a doença, deixando a criança debilitada, como em todas as viroses. As crianças de infantário estão muito mais suscetíveis (pela maior exposição e contacto mais próximo umas entre as outras).

Tratamento


- Alimentação mole e sem alimentos ácidos, à temperatura ambiente ou mesmo fria (nunca insistir para comer).
- A medicação é dirigida para os sintomas (para a febre e desconforto da criança) que inclui paracetamol (Ben-u-ron), ibuprofeno (Brufen).
- As lesões devem “lavar-se” com água morna salgada e eventualmente (se infetadas) devem desinfetar-se com antisséptico.
- Para as “úlceras” da boca, pode aplicar-se roxo de genciana (não é consensual entre pediatras - eu uso e tenho boa experiência) ou lidocaína (anestésico local) em gel ou spray para diminuir a dor.
As crianças que apresentam este quadro clínico devem ser observadas pelo seu médico assistente, para o diagnóstico e orientação terapêutica adequados.