segunda-feira, 13 de julho de 2015

Acidentes em Pediatria

Estamos no verão e, infelizmente, é a altura do ano em que se registam mais acidentes em idade pediátrica. Os Acidentes e Intoxicações constituem a 1ª causa de mortalidade em crianças de 1 a 5 anos.
Por este motivo, é essencial a prevenção. Os pais ou os cuidadores têm que estar, sempre, alertas e nunca esquecer “que não acontece só aos outros”…
A minha experiência com acidentes (a maioria imprevistos!) é devastadora (com fins trágicos e inesquecíveis!) … por isso, sempre fui conhecida, quer entre amigos/colegas e pais como muito “chata” com a prevenção dos acidentes nas brincadeiras, nas viagens e no cumprimento das regras de segurança. Vou por isto, alertar-vos para os acidentes mais frequentes, consoante a idade.

Quedas e Contusões ou Feridas

No 1º Ano de vida (dos 0 – 12 meses)
- Nunca deixar a criança no “muda fraldas” (para ir buscar alguma coisa…!), nem na cama dos pais, nem no sofá. Até os recém-nascidos se mexem muito e podem cair! Na dúvida, coloquem a criança no chão.
- Atenção às grades das camas, (devem ter um espaço entre elas nunca superior a 8cm).
- Os irmãos mais velhos gostam de ter ao colo os bebés, mas sempre e só sob vigilância de um adulto
- As “Aranhas” ou Andarilhos não devem ser usados !!! Infelizmente, a maioria dos pais têm-nos…! Não só, porque do ponto de vista de desenvolvimento não são indicados, como são um risco imenso de acidentes. O EHLASS (Sistema Europeu de Vigilância de Acidentes Domésticos e de Lazer) contabilizou em Portugal, só este ano, 850 acidentes com “Aranhas”, alguns muito graves.
- Lembrar o transporte nas viagens de automóvel, sempre de “cadeirinha” e com todos os cintos apertados (quer chore muito…!). Chora a criança, não choram os pais mais tarde, se acontecer alguma coisa!
- As crianças não devem “brincar” com objetos que não sejam brinquedos para a sua idade (é comum “brincarem” com a chave do carro dos pais, telemóveis…). Por isso cada idade tem brinquedos adequados e certificados para cada faixa etária.
- Deite fora brinquedos estragados ou danificados, que serão sempre um risco.
Mais de 12 meses
- Atenção às janelas e varandas, que muitas vezes, sem sabermos como, as crianças sobem, debruçam-se, passam entre as grades, etc. Sempre fechadas e vedadas ao acesso das crianças.
- Obrigatório existirem “cancelas” no acesso às escadas dentro de casa (é dos acidentes mais frequentes e graves).
- Atenção aos pavimentos de casa (não devem ser escorregadios) e a criança deverá estar sempre calçada de forma adequada, para não escorregar.
- Colocar protetores nas tomadas elétricas, armários, gavetas.
- Atenção às molduras com fotos (as crianças vão dar beijinhos…), com risco de se partirem e o vidro ser um perigo.

Intoxicações

A grande maioria das crianças faz aquilo que não nos passa pela cabeça…! As intoxicações são dos acidentes mais graves e com repercussões para toda a vida.
- Detergentes domésticos têm, obrigatoriamente, de estar longe do alcance das crianças.
- Bebidas alcoólicas, medicamentos, perfumes fora do acesso também.

Queimaduras (domésticas)

As queimaduras são muito frequentes em idade pediátrica.
Atenção à cozinha!
- O forno quando ligado é atrativo para as crianças;
- As panelas e frigideiras ao lume estão muitas vezes ao seu alcance;
- Na mesa nunca devem permanecer travessas com comida quente ou líquidos quentes. Cuidado com o transporte das panelas na cozinha;
- Lareiras, aquecedores e ferros de engomar, são responsáveis por muitas queimaduras;
 - No café, quantas vezes as crianças deitam a mão à “bica”, num segundo de distração.

Corpos Estranhos e Engasgamentos e Asfixia

- Frequente também, são os engasgamentos e/ou deglutição de corpos estranhos.
- Não deixar a criança brincar com objetos pequenos, como moedas, botões, frutos secos, brinquedos facilmente desmontáveis.
- Nunca deixar a criança brincar com coisas na boca (uma distração, uma gargalhada, uma queda, leva-a a engolir o que tem na boca). Atenção aos balões vazios (são feitos de latex e “colam” na garganta…asfixiando a criança!).
- Não usar fios (ouro, prata, coral), nem correntes para suspender a chupeta em redor do pescoço.
Afogamentos

- Os mais frequentes nesta altura do ano, por muito que se informe, estes acidentes mantêm-se!
- Nos mais pequenos, atenção ao banho. Nunca deixar a criança sozinha.
- Nenhuma criança pode estar ou permanecer perto de uma piscina, sem ser acompanhado por um adulto responsável e com o foco na criança. Jamais poderá estar na piscina sozinha ou acompanhada por outras, mesmo que mais velhas! Nenhuma criança deve estar numa casa com piscina que não tenha proteção desta última.
- Na praia, só deverá ir ao mar acompanhada de um adulto e com proteção (braçadeiras, boia justa, colete). Nunca deve permanecer sozinha junto à beira mar, mesmo com bandeira verde.

Outros Acidentes
Animais

Nunca deixar que as crianças “mexam”/brinquem com animais não conhecidos, ainda que os seus donos digam que são inofensivos. Primeiro, porque são animais desconhecidos na presença de uma criança que para eles também não lhes é familiar (podem ter reação negativa), segundo porque os animais, também devem estar vacinados, desparasitados, cuidados do ponto de vista de saúde, o que muitas vezes não acontece.

Bicicletas, Skates, Patins

Existe equipamento de segurança, como capacete, joelheiras, cotoveleiras para que as crianças experimentem sensações e desafios novos, mas em segurança.

No carrinho do supermercado

Por lei a criança só pode ser transportada na zona onde vai sentada de frente para os pais com as pernas “presas” e de onde dificilmente cái…! Infelizmente é vulgar vermos as crianças, dentro do carrinho, muitas vezes de pé, situação em que a queda é eminente, mas que os pais de forma negligente e grave, repetem. Os traumatismos cranianos são muito frequentes nesta situação. 

domingo, 7 de junho de 2015

Rinite Alérgica

A Rinite Alérgica resulta de uma reação imunológica do organismo a partículas inaladas que são consideradas estranhas - alérgenos. Cerca de 25% das crianças, sofre desta doença.
O nariz é o primeiro local por onde a ar passa até alcançar os pulmões. É responsável pela limpeza, humidificação e aquecimento do ar inspirado. Para exercer essa função, o nariz possui um complexo mecanismo de defesa. Por isso, a criança alérgica ao entrar em contato com algum alérgeno (pólen, ácaros do pó, pelos de animais…), desencadeia uma resposta para impedir que essa substância alcance os pulmões.
Atualmente é encontrado um componente genético nas alergias. Quando ambos os pais tem rinite, a probabilidade de os filhos terem o problema é de 50%.

O que desencadeia a Rinite?

São os chamados alérgenos, que podem ser:
         - Pólenes.
         - Ácaros do pó.
         - Pelos de animais.
         - Fungos, Baratas.
         - Poluição, fumo de cigarro.
         - Cheiros ativos (detergentes).

Quais os Sinais e Sintomas/ Quadro clínico?

         - Obstrução nasal marcada;
         - Espirros constantes e repetidos;
         - Comichão no nariz (prurido nasal) intensa;
         - Prega no dorso do nariz (resultado da comichão);
         - Comichão nos olhos, Lacrimejo constante;
   - Olhos Vermelhos e Inchados;
         - Respiração maioritariamente oral;
         - Dores de cabeça;
         - Olheiras, perda de apetite;
         - Cansaço fácil (menor rendimento escolar).

Como Evitar as Crises?

         - Manter a casa arejada e sem humidade;
         - Limpeza diária do quarto da criança;
         - Evitar carpetes, alcatifas, peluches no quarto;
   - Evitar lençóis de flanela, polares, cobertores (só edredons acrílicos);
         - Evitar animais de estimação em casa (gatos, cães, coelhos, pássaros);
         - Evitar passeios no campo na primavera;
         - Usar sempre óculos escuros na primavera e verão.

Que Complicações existem?

         - Sinusite (mais comum!);
         - Tosse (piora à noite);
         - Maior suscetibilidade de infeções respiratórias;
         - Alterações da dentição e do maxilar, em função da obstrução nasal permanente e da respiração alterada, necessitando mais tarde de aparelho dentário (60% das crianças que usam aparelhos dentários são portadoras de Rinite);
         - Má qualidade de vida…

Qual o Tratamento?

         - Anti-histamínicos orais (Zyrtec, Xyzal, Aerius, Claritine, Zaditen, Kestine, Bilaxten, etc).
         - Anti-inflamatórios tópicos em spray (Pulmicort, Avamys, Nasomet, Eustidil, Rontilona, etc).
            - Anti-histamínicos nasais em spray (Fenolip, Allergodil).
            - Anti-histamínicos oculares em colírio (Zaditen, Allergodil).
          - Vacinas, denominada Imunoterapia especifica (prescritas por Alergologistas e preparadas com os alérgenos a que reage a criança.

A Rinite Alérgica nas crianças nem sempre é valorizada pelos pais, muitas vezes pensando tratar-se de uma “constipação” prolongada. 

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Picadas de Inseto - Prevenção e Tratamento

As picadas de insetos são geralmente provocadas por mosquitos e melgas e mais raramente, por vespas ou abelhas. Ocorrem com maior frequência a partir da Primavera e estendem-se até ao início de Outono.
Habitualmente, as picadas de insetos não têm consequências graves, tratando-se de situações benignas, mas em crianças alérgicas revelam-se muito importantes.
As reações a picadas de insetos envolvem mecanismos imunológicos e não imunológicos. Estes mecanismos, explicam a comichão e o inchaço no local da picada, sendo que a formação de células inflamatórias no local justifica a formação de uma reação tardia (tumefação, vermelhidão, bolhas), como acontece passadas umas horas da picada.
As crianças que vivem no campo ou que tenham contacto com animais têm maior probabilidade de serem picadas.
Em alguns casos, podem surgir situações mais complicadas, consoante o local. Por exemplo, se for nas pálpebras, nos pavilhões auriculares, o inchaço além de provocar deformações, pode levar ao aparecimento de infeções bacterianas, com necessidade de antibiótico oral.

Como Prevenir?
         - Tentar proteger o corpo com roupa fresca e de cor clara.
         - Usar repelente na pele ou na roupa (Previpic, Pré-Butix, Tabard).
         - Usar repelente, que pode ser elétrico, em casa (Por exemplo, os difusores à venda nos hipermercados, e colocados no quarto ou no local onde a criança, habitualmente, está).
         - Usar repelentes portáteis nos passeios ao ar livre (ultrassónicos, por exemplo da Chicco), no berço, carrinho (pouco eficazes, por vezes).


Como Tratar?
         - Colocar compressas frias / gelo para diminuir a comichão e sensação de mal-estar.
         - Colocar creme/pomada com corticoide (quando a reação inflamatória é exuberante) e/ou anti-histamínico (não é consensual).
         - Colocar pomada com antibiótico, no caso de existir infeção.
         - Anti-histamínico oral (Atarax, Aerius, Zyrtec, Xyzal).

         - Antibióticos orais (só em casos de sobre-infeção bacteriana).

terça-feira, 14 de abril de 2015

Plagiocefalia Posicional/ Assimetria Craniana/ "Cabeça Torta"

A Plagiocefalia Posicional é o termo médico que designa uma assimetria da cabeça, habitualmente com “achatamento” da parte posterior do crânio de um dos lados.
Ocorre em cerca de 12 em cada 100 bebés que nascem e ainda representa um diagnóstico difícil, sobretudo para pais e muitas vezes para pediatras.
Hoje em dia esta situação é frequente, devido às indicações para deitarmos os bebés de barriga para cima quando dormem (diminui o risco de Síndroma da Morte Súbita), o que condiciona uma postura preferencial logo de início.
Esta deformação, na maioria dos casos sem gravidade, se não for corrigida, pode gerar complicações estéticas graves e, em alguns casos, complicações funcionais (encerramento do maxilar, desalinhamento dos olhos e orelhas).

Porque Surge? Como surge?
         - O mais frequente é que vá progredindo, ou seja, quase todos os bebés têm uma posição preferencial da cabeça. Habitualmente é a posição que tinham na barriga da mãe, agravada pela persistência dessa postura, depois de nascerem - geralmente rodam a cabeça no berço para poderem olhar para a mãe. Este apoio da cabeça, mais para um dos lados, condiciona uma assimetria ou Plagiocefalia.
         - Torcicolo Congénito.
Neste caso, o bebé tem, sempre uma postura mantida para um dos lados, não conseguindo rodar a cabeça para o lado contrário. Leva à assimetria da cabeça e deve iniciar-se, precocemente, fisioterapia, que é eficaz, na maior parte dos casos.
       - Encerramento das “ligações” dos ossos do crânio antes de tempo, condicionando uma assimetria maior e mais notória do crânio e face e necessita também de terapia precoce.

Como Perceber se o Bebé tem Plagiocefalia?

Vamos observar as figuras e rapidamente percebemos se tem ou não.



Como Prevenir a Plagiocefalia?
         - Posicione o bébé, durante o dia, sentado para que possa movimentar a cabeça livremente.
          - Durante as mamadas, alternar a posição da cabeça.
      - Durante a noite, tente alternar a rotação da cabeça para ambos os lados (colocando apoios laterais, brinquedos com cor e som para o lado que deseja e sobretudo mude o berço de posição para mudar o angulo que o bébé faz para visualizar a mãe).
       - Posicione o bébé de barriga para baixo, uma vez que ajuda a fortalecer a musculatura do pescoço e ao mesmo tempo não apoiam o crânio.

O que Fazer para Corrigir a Plagiocefalia?
         - Na maioria dos casos, a plagiocefalia pode ser corrigida com manobras simples no seio familiar, estimulando-o mais para o “lado” que ele não gosta, desde que diagnosticada atempadamente e vigiada.
      - Fisioterapia específica em alguns casos com diagnostico tardio ou mais exuberantes.

Na maioria dos casos a Plagiocefalia é uma situação transitória, reversível com as indicações do pediatra ou do fisioterapeuta, no entanto, tal como já foi dito, se não diagnosticada e/ou tratada resulta em deformações estéticas e até funcionais.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Aftas

A afta é uma lesão do tipo “úlcera” que surge em qualquer local da boca (língua, lábios, gengiva, garganta). Têm um formato oval e são esbranquiçadas. Podem ser únicas ou múltiplas, pequenas ou grandes. Apesar de constituírem uma situação benigna, as aftas são muito dolorosas e muitas vezes impedem a criança de se alimentar. Afeta cerca de 20% da população e é a patologia mais frequente da cavidade oral. A maioria das aftas dura cerca de 1 a 2 semanas.

Qual a causa das Aftas?
A sua origem exata ainda é desconhecida, no entanto, a sua causa habitualmente é devida a um conjunto de fatores.
         - Locais
- Traumatismos (na mastigação como mordedura)
- Má higiene
- Ingestão de alimentos ácidos
         - Gerais
- Infeções (viroses na maioria dos casos nas crianças)
- Doenças Imunológicas ou Hematológicas
-Associadas a outras doenças gerais.

As aftas são hereditárias?
Não. Contudo, em cerca de 50% das crianças que têm aftas, um dos seus progenitores também costuma ter.
 
Quadro Clínico

              - Dor (sempre), que agrava com alimentos salgados ou ácidos.
                  - Recusa em falar e comer.
                  - Hemorragia das gengivas.
Tratamento
          Medidas gerais
                   - Evitar comida quente, salgada, picante, ácida (fruta);
                   - Oferecer líquidos (soro de hidratação, iogurtes líquidos, leite);
                   - Oferecer comida mole e à temperatura ambiente.
          Tratamento local
                   - Anestésicos locais (em sprays, em soluções para bochechar ou em gel). Usados antes de comer para diminuir a dor e o desconforto (Aloclair, Xilocaina, etc).
                 - Antissépticos sem álcool: mais indicados para evitar a sobreinfeção e manter a higiene oral (Bexident, Eludril).
              - Antimicóticos: indicados para evitar a colonização por fungos       (Mycostatin, Daktarin).
                   - Corticóides orais: usados, mais raramente, em sprays ou
soluções para bochechar.

Não esquecer que, tal como já foi dito, as aftas são situações benignas e transitórias, mas que podem levar a recusa alimentar na criança, irritabilidade e até algum grau de prostração. Devem ter paciência e aguardar a evolução favorável habitual, para a criança recuperar na totalidade.

terça-feira, 17 de março de 2015

Quando e Como Tirar a Fralda... ?

Não existe uma idade certa para “tirar as fraldas”…Regra geral, por volta dos 2 anos, a criança já atingiu o amadurecimento neurológico, motor e emocional necessário para começar a usar a sanita (com o adaptador para criança ou redutor). Esta maturidade difere de criança para criança. Há quem defenda que quanto mais tarde se fizer o “treino”, menos tempo a criança leva para conseguir o controlo. Algumas levam uns dias, outras crianças meses. O truque é nunca forçar nem transmitir ansiedade, muito menos castigar e insultar, como frequentemente se assiste. Não sou, de todo, apologista do bacio. As crianças agem por imitação dos pais e no dia-a-dia não vêm os pais sentados no bacio no meio da sala!!! Por isso recomendo a compra de adaptador ou redutor para a sanita.

Como Iniciar?
Fundamental - Calma, persistência e em simultâneo nos vários ambientes que a criança frequenta (casa, escola, casa dos avós/ama).
- Tentar não voltar às fraldas ao fim-de-semana.
- Escolha o verão ou o tempo quente para iniciar.
- Explique à criança que vai iniciar o processo de tirar a fralda para ser “um crescido”.
- Coloque a cueca, vista só uma t-shirt e calce umas sandálias mais velhas. Deixe a criança, nas primeiras vezes, urinar pelas pernas abaixo… Ela vai ter a noção, à 2ª ou 3ª vez que o fizer, que consegue contrair o esfíncter (orifício por onde sai a urina) e que consegue “parar o xixi”. Na minha opinião, esta é a 1ª fase (consciencialização da criança que consegue ter controlo). Na fase a seguir existem as “fraldas cueca”, que a criança pode baixar sozinha e ao mesmo tempo não se sujar.
- Em relação às fezes, tente perceber qual a hora ou ocasião (de manhã, após as refeições, à noite) em que a criança as faz. É nessa altura que a deve colocar na sanita com o adaptador. Sente-se ao pé da criança, converse para ajudar a relaxar a musculatura da zona pélvica.
- Caso a criança tenha fezes duras convém, nesta fase, reforçar a oferta de frutas e cereais, para que o ato de defecar não seja doloroso e não se inicie um processo de prisão de ventre ou obstipação, tão frequente nesta fase.
- Elogie muito a criança, sempre que conseguir, mas NUNCA castigue ou insulte.
- Vão existir recaídas, seguramente, mas não deve ralhar nem castigar. Explique que não tem mal, e que para a próxima será melhor.

E Quando Tirar a Fralda de Noite?
- Só quando a criança estiver preparada!
- Pode demorar muito tempo…!
- Habitualmente, ao fim de 6 meses ou mais de se tirar a fralda durante o dia.
- Deve tentar diminuir a quantidade de líquido que a criança bebe antes de dormir (beber menos água ao jantar, não beber sumos, não beber ou diminuir o leite antes de dormir).
- Só tentar, na altura em que a fralda da noite se mantiver “seca” durante várias noites seguidas. Mesmo assim, existirão muitas noites “molhadas” que fazem parte do crescimento e maturidade da criança.
Em suma, o “tirar as fraldas” ou desfralde, pode ser uma etapa rápida e sem dificuldades, assim como, pode ser uma fase longa e penosa para a criança e pais. Calma, compreensão, segurança e sobretudo ausência de ansiedade, é tudo o que deve demonstrar à criança.

terça-feira, 10 de março de 2015

Prisão de Ventre ou Obstipação

A obstipação ou “prisão de ventre”, como vulgarmente é chamada, existe quando a frequência de dejeções é menor de 4 vezes por semana ou quando as fezes são muito duras, provocando dor e desconforto.
Esta situação é muito frequente em pediatria, motivando, muitas vezes, consultas de Gastroenterologia Pediátrica, por desespero dos pais. Na grande maioria dos casos, em crianças com menos de 1 ano a sua causa é desconhecida, mas em crianças em idade pré-escolar e escolar é maioritariamente devida a má alimentação.
A “prisão de ventre” pode surgir em qualquer idade, contudo acontece mais na fase de deixar as fraldas (treino defecatório) ou quando entra para a escola. Ocorre tanto em rapazes como em raparigas, mas a partir da puberdade é mais frequente nas raparigas.

Quais as Causas ou Fatores  que dão origem à Obstipação?
- Em 90 a 95% não há uma causa objetiva (Obstipação Funcional).
- Em raros casos, pode tratar-se de uma malformação anorretal, hipotiroidismo, doenças neuromusculares ou ainda de origem medicamentosa.
- O recém-nascido, habitualmente, evacua a cada mamada, sendo que posteriormente aumentam os intervalos das dejeções. Alguns têm dificuldade em evacuar, mesmo as fezes sendo semilíquidas - fazem força, ficam vermelhos e choram, mas o esfíncter anal (orifício por onde saem) não abre. Trata-se de uma descoordenação reto-anal por imaturidade do esfíncter anal (não é uma verdadeira obstipação. Nestes casos, deve-se estimular o ânus com a cânula do clister, untada com vaselina esterilizada ou até com a ponta do termómetro, para facilitar).
- Em crianças com mais de 2 anos, deve-se a erros alimentares, nomeadamente alimentação pobre em legumes, fibras e água (não comem sopa, não comem fruta natural, não bebem água!). A ingestão de excesso de leite, também provoca na maioria das crianças “prisão de ventre”.
- Algumas crianças, durante as brincadeiras, não as interrompem se sentirem vontade de defecar, “encolhendo-se” e dando inicio ao processo de obstipação ou “prisão de ventre”.
- Também as lesões do tipo fissura anal, ou as perturbações emocionais podem levar a esta situação.
Na maioria dos casos, o inicio desta situação, surge quando a criança começa a associar dor ao ato de defecar e procurando evitar essa dor ou desconforto, tenta impedir ou atrasar a defecação (encolhe-se e não evacua). A acumulação progressiva das fezes provoca uma distensão (dilatação) do reto e vai desaparecendo a vontade de defecar. Ao fim de 2 ou 3 dias, a criança vai ter uma dejeção de fezes muito duras, dolorosa e volta a encolher-se para não fazer, passando a ser um ciclo vicioso. As dores abdominais estão muitas vezes associadas a esta situação, assim como a anorexia, náuseas e vómitos. Também poderá ocorrer perda de pequena quantidade de fezes nas cuecas (encopresis).

Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico é clinico, ou seja é feito através do conjunto de sintomas, sinais, comportamento e características das fezes. Não são necessários, habitualmente, exames complementares.

Qual o tratamento mais adequado?
Difícil resposta…!
- Na altura do “treino defecatório” (largar as fraldas), não deve haver pressão, nem demasiada insistência (a ansiedade gera o ciclo vicioso da retenção das fezes).
- O tratamento é longo e requer o envolvimento dos pais, da criança e do médico. Começa-se pela alimentação:
Ø  Reforço de legumes, fibras (sopas, cereais integrais) e fruta (ameixas, citrinos, kiwis, manga, papaia, mamão)
Ø  Aumento da ingestão de água (Nunca beber sumos artificiais com ou sem gás).
 
- Se o intestino estiver “cheio”, deve proceder-se ao seu esvaziamento, com clisteres de limpeza e não deixar voltar a acumular as fezes:
Ø  Fomentar hábitos intestinais adequados, através da utilização regular da casa de banho (às vezes é necessário a mãe estar lá até a criança perceber que se trata de uma rotina).
- Existem “medicamentos” para ajudar a amolecer as fezes, que o pediatra indicará se necessário (muitas vezes essenciais durante meses, para inverter este ciclo doloroso para a criança).


Em suma, a obstipação é um problema muito frequente e responsável pela perda da qualidade de vida. Se o seu filho for obstipado, fale com o seu pediatra e cumpra escrupulosamente o tratamento instituído. Não tenha receio de ter de fazer medicação durante muitos meses - há a noção errada de que os laxantes poderão causar dependência, mas é uma ideia falsa. Não há qualquer problema em tratamentos arrastados.

domingo, 1 de março de 2015

O sono nas crianças...a sua importância!

O Sono é uma necessidade biológica básica e vital na nossa vida e com uma especial importância nas crianças, condicionando o seu crescimento e desenvolvimento, o comportamento ao longo do dia, desde o desempenho escolar, até ao seu bem estar (ou não...!).
A “quantidade” e a “qualidade” do sono, sempre foram debatidos como sendo imprescindíveis. Sabemos que a maioria das crianças com fraco desempenho escolar, com dificuldade de atenção e concentração, e ainda as mais violentas, habitualmente não dormem bem. Há quem defenda que o crescente número de crianças, com alterações de concentração/atenção, se deve a anos de más práticas de sono. É, pois, muito importante, incutir bons hábitos de sono, desde muito cedo.
O “sono” dos filhos é um dos temas habituais nas consultas de pediatria. Muito fácil de aconselhar, por nós pediatras, mas muito difícil de executar por parte dos pais, porque os maus hábitos na sua maioria já estão instalados e, portanto, difíceis de mudar. Frequente é a recusa da criança em se deitar sozinho, devido a medo da separação dos pais, medo do escuro, em suma…insegurança!
O ritmo e os rituais de cada família, contribuem largamente para más práticas na hora de deitar, nomeadamente a visualização de programas de televisão, como telenovelas, reality shows, que em nada são adequados à idade das crianças (muitas vezes não os compreendendo ou imaginando que são “reais”), o uso excessivo de videojogos, os tablets e os jogos… mantendo-as excitadas, prejudicam não só a hora de deitar, como a qualidade do sono destas crianças.
Quantas horas devem dormir as crianças?
- Os Recém-nascidos dormem cerca de 22 – 23 horas por dia, com ciclos de sono/despertar cada 3 a 4 horas, relacionadas com as necessidades alimentares.
- Aos 3 meses dormem cerca de 16 a 18 horas
- Aos 12 meses dormem (ou devem dormir) 14 a 16 horas.
- Aos 3 anos dormem (ou devem dormir) de 12 a 14 h, das quais 2 são de sesta.
- Dos 3 aos 5 anos dormem (ou devem dormir) de 11 a 13h.
- Dos 5 aos 12 anos dormem (ou devem dormir) 9 a 11 horas.
- Dos 12 anos aos 18 anos dormem (ou devem dormir), no mínimo, 9 horas.
                                                                                    
 O que fazer para conseguir um Sono de maior duração e melhor qualidade?
 - Estabelecer um ambiente calmo em termos de som, iluminação e temperatura no quarto.
         - Estabelecer uma hora de deitar e cumpri-la sempre!!!
         - Estabelecer um ritual de sono (contar uma história, uma canção).
        - Na hora de dormir, transmitir muita afetividade (dizer que a ama, abraça-la…) para lhe transmitir segurança. Faça da hora de dormir, um momento de afeto.
        - Nas crianças até aos 3 anos, recomenda-se “um objeto de transição”, que pode ser um boneco, uma fralda, a chucha, com o objetivo de que se sinta segura.
       - Se acordar de noite com pesadelos, os pais devem tentar acalmar a criança, contudo se ela permanecer muito assustada, deve permanecer com ela ou leva-la para a cama onde dormem (esta é a minha opinião, não sendo consensual entre pediatras e psicólogos).

Uma forma de avaliar se a criança dorme o suficiente é observando o seu comportamento ao longo do dia, nomeadamente se apresenta irritabilidade constante, dificuldade em aceitar regras (por exemplo na escola), falta de apetite, etc.
Em suma, a má qualidade do sono interfere na memória, na capacidade de aprender e no comportamento. Gera irritação, falta de concentração, limita a capacidade de escutar e resolver problemas, leva a comportamentos agressivos e dificuldades relacionais com colegas, familiares e professores, provocando ansiedade.
A qualidade e quantidade correta do sono é determinante para o bom desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental das crianças.