segunda-feira, 23 de março de 2015

Aftas

A afta é uma lesão do tipo “úlcera” que surge em qualquer local da boca (língua, lábios, gengiva, garganta). Têm um formato oval e são esbranquiçadas. Podem ser únicas ou múltiplas, pequenas ou grandes. Apesar de constituírem uma situação benigna, as aftas são muito dolorosas e muitas vezes impedem a criança de se alimentar. Afeta cerca de 20% da população e é a patologia mais frequente da cavidade oral. A maioria das aftas dura cerca de 1 a 2 semanas.

Qual a causa das Aftas?
A sua origem exata ainda é desconhecida, no entanto, a sua causa habitualmente é devida a um conjunto de fatores.
         - Locais
- Traumatismos (na mastigação como mordedura)
- Má higiene
- Ingestão de alimentos ácidos
         - Gerais
- Infeções (viroses na maioria dos casos nas crianças)
- Doenças Imunológicas ou Hematológicas
-Associadas a outras doenças gerais.

As aftas são hereditárias?
Não. Contudo, em cerca de 50% das crianças que têm aftas, um dos seus progenitores também costuma ter.
 
Quadro Clínico

              - Dor (sempre), que agrava com alimentos salgados ou ácidos.
                  - Recusa em falar e comer.
                  - Hemorragia das gengivas.
Tratamento
          Medidas gerais
                   - Evitar comida quente, salgada, picante, ácida (fruta);
                   - Oferecer líquidos (soro de hidratação, iogurtes líquidos, leite);
                   - Oferecer comida mole e à temperatura ambiente.
          Tratamento local
                   - Anestésicos locais (em sprays, em soluções para bochechar ou em gel). Usados antes de comer para diminuir a dor e o desconforto (Aloclair, Xilocaina, etc).
                 - Antissépticos sem álcool: mais indicados para evitar a sobreinfeção e manter a higiene oral (Bexident, Eludril).
              - Antimicóticos: indicados para evitar a colonização por fungos       (Mycostatin, Daktarin).
                   - Corticóides orais: usados, mais raramente, em sprays ou
soluções para bochechar.

Não esquecer que, tal como já foi dito, as aftas são situações benignas e transitórias, mas que podem levar a recusa alimentar na criança, irritabilidade e até algum grau de prostração. Devem ter paciência e aguardar a evolução favorável habitual, para a criança recuperar na totalidade.

terça-feira, 17 de março de 2015

Quando e Como Tirar a Fralda... ?

Não existe uma idade certa para “tirar as fraldas”…Regra geral, por volta dos 2 anos, a criança já atingiu o amadurecimento neurológico, motor e emocional necessário para começar a usar a sanita (com o adaptador para criança ou redutor). Esta maturidade difere de criança para criança. Há quem defenda que quanto mais tarde se fizer o “treino”, menos tempo a criança leva para conseguir o controlo. Algumas levam uns dias, outras crianças meses. O truque é nunca forçar nem transmitir ansiedade, muito menos castigar e insultar, como frequentemente se assiste. Não sou, de todo, apologista do bacio. As crianças agem por imitação dos pais e no dia-a-dia não vêm os pais sentados no bacio no meio da sala!!! Por isso recomendo a compra de adaptador ou redutor para a sanita.

Como Iniciar?
Fundamental - Calma, persistência e em simultâneo nos vários ambientes que a criança frequenta (casa, escola, casa dos avós/ama).
- Tentar não voltar às fraldas ao fim-de-semana.
- Escolha o verão ou o tempo quente para iniciar.
- Explique à criança que vai iniciar o processo de tirar a fralda para ser “um crescido”.
- Coloque a cueca, vista só uma t-shirt e calce umas sandálias mais velhas. Deixe a criança, nas primeiras vezes, urinar pelas pernas abaixo… Ela vai ter a noção, à 2ª ou 3ª vez que o fizer, que consegue contrair o esfíncter (orifício por onde sai a urina) e que consegue “parar o xixi”. Na minha opinião, esta é a 1ª fase (consciencialização da criança que consegue ter controlo). Na fase a seguir existem as “fraldas cueca”, que a criança pode baixar sozinha e ao mesmo tempo não se sujar.
- Em relação às fezes, tente perceber qual a hora ou ocasião (de manhã, após as refeições, à noite) em que a criança as faz. É nessa altura que a deve colocar na sanita com o adaptador. Sente-se ao pé da criança, converse para ajudar a relaxar a musculatura da zona pélvica.
- Caso a criança tenha fezes duras convém, nesta fase, reforçar a oferta de frutas e cereais, para que o ato de defecar não seja doloroso e não se inicie um processo de prisão de ventre ou obstipação, tão frequente nesta fase.
- Elogie muito a criança, sempre que conseguir, mas NUNCA castigue ou insulte.
- Vão existir recaídas, seguramente, mas não deve ralhar nem castigar. Explique que não tem mal, e que para a próxima será melhor.

E Quando Tirar a Fralda de Noite?
- Só quando a criança estiver preparada!
- Pode demorar muito tempo…!
- Habitualmente, ao fim de 6 meses ou mais de se tirar a fralda durante o dia.
- Deve tentar diminuir a quantidade de líquido que a criança bebe antes de dormir (beber menos água ao jantar, não beber sumos, não beber ou diminuir o leite antes de dormir).
- Só tentar, na altura em que a fralda da noite se mantiver “seca” durante várias noites seguidas. Mesmo assim, existirão muitas noites “molhadas” que fazem parte do crescimento e maturidade da criança.
Em suma, o “tirar as fraldas” ou desfralde, pode ser uma etapa rápida e sem dificuldades, assim como, pode ser uma fase longa e penosa para a criança e pais. Calma, compreensão, segurança e sobretudo ausência de ansiedade, é tudo o que deve demonstrar à criança.

terça-feira, 10 de março de 2015

Prisão de Ventre ou Obstipação

A obstipação ou “prisão de ventre”, como vulgarmente é chamada, existe quando a frequência de dejeções é menor de 4 vezes por semana ou quando as fezes são muito duras, provocando dor e desconforto.
Esta situação é muito frequente em pediatria, motivando, muitas vezes, consultas de Gastroenterologia Pediátrica, por desespero dos pais. Na grande maioria dos casos, em crianças com menos de 1 ano a sua causa é desconhecida, mas em crianças em idade pré-escolar e escolar é maioritariamente devida a má alimentação.
A “prisão de ventre” pode surgir em qualquer idade, contudo acontece mais na fase de deixar as fraldas (treino defecatório) ou quando entra para a escola. Ocorre tanto em rapazes como em raparigas, mas a partir da puberdade é mais frequente nas raparigas.

Quais as Causas ou Fatores  que dão origem à Obstipação?
- Em 90 a 95% não há uma causa objetiva (Obstipação Funcional).
- Em raros casos, pode tratar-se de uma malformação anorretal, hipotiroidismo, doenças neuromusculares ou ainda de origem medicamentosa.
- O recém-nascido, habitualmente, evacua a cada mamada, sendo que posteriormente aumentam os intervalos das dejeções. Alguns têm dificuldade em evacuar, mesmo as fezes sendo semilíquidas - fazem força, ficam vermelhos e choram, mas o esfíncter anal (orifício por onde saem) não abre. Trata-se de uma descoordenação reto-anal por imaturidade do esfíncter anal (não é uma verdadeira obstipação. Nestes casos, deve-se estimular o ânus com a cânula do clister, untada com vaselina esterilizada ou até com a ponta do termómetro, para facilitar).
- Em crianças com mais de 2 anos, deve-se a erros alimentares, nomeadamente alimentação pobre em legumes, fibras e água (não comem sopa, não comem fruta natural, não bebem água!). A ingestão de excesso de leite, também provoca na maioria das crianças “prisão de ventre”.
- Algumas crianças, durante as brincadeiras, não as interrompem se sentirem vontade de defecar, “encolhendo-se” e dando inicio ao processo de obstipação ou “prisão de ventre”.
- Também as lesões do tipo fissura anal, ou as perturbações emocionais podem levar a esta situação.
Na maioria dos casos, o inicio desta situação, surge quando a criança começa a associar dor ao ato de defecar e procurando evitar essa dor ou desconforto, tenta impedir ou atrasar a defecação (encolhe-se e não evacua). A acumulação progressiva das fezes provoca uma distensão (dilatação) do reto e vai desaparecendo a vontade de defecar. Ao fim de 2 ou 3 dias, a criança vai ter uma dejeção de fezes muito duras, dolorosa e volta a encolher-se para não fazer, passando a ser um ciclo vicioso. As dores abdominais estão muitas vezes associadas a esta situação, assim como a anorexia, náuseas e vómitos. Também poderá ocorrer perda de pequena quantidade de fezes nas cuecas (encopresis).

Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico é clinico, ou seja é feito através do conjunto de sintomas, sinais, comportamento e características das fezes. Não são necessários, habitualmente, exames complementares.

Qual o tratamento mais adequado?
Difícil resposta…!
- Na altura do “treino defecatório” (largar as fraldas), não deve haver pressão, nem demasiada insistência (a ansiedade gera o ciclo vicioso da retenção das fezes).
- O tratamento é longo e requer o envolvimento dos pais, da criança e do médico. Começa-se pela alimentação:
Ø  Reforço de legumes, fibras (sopas, cereais integrais) e fruta (ameixas, citrinos, kiwis, manga, papaia, mamão)
Ø  Aumento da ingestão de água (Nunca beber sumos artificiais com ou sem gás).
 
- Se o intestino estiver “cheio”, deve proceder-se ao seu esvaziamento, com clisteres de limpeza e não deixar voltar a acumular as fezes:
Ø  Fomentar hábitos intestinais adequados, através da utilização regular da casa de banho (às vezes é necessário a mãe estar lá até a criança perceber que se trata de uma rotina).
- Existem “medicamentos” para ajudar a amolecer as fezes, que o pediatra indicará se necessário (muitas vezes essenciais durante meses, para inverter este ciclo doloroso para a criança).


Em suma, a obstipação é um problema muito frequente e responsável pela perda da qualidade de vida. Se o seu filho for obstipado, fale com o seu pediatra e cumpra escrupulosamente o tratamento instituído. Não tenha receio de ter de fazer medicação durante muitos meses - há a noção errada de que os laxantes poderão causar dependência, mas é uma ideia falsa. Não há qualquer problema em tratamentos arrastados.

domingo, 1 de março de 2015

O sono nas crianças...a sua importância!

O Sono é uma necessidade biológica básica e vital na nossa vida e com uma especial importância nas crianças, condicionando o seu crescimento e desenvolvimento, o comportamento ao longo do dia, desde o desempenho escolar, até ao seu bem estar (ou não...!).
A “quantidade” e a “qualidade” do sono, sempre foram debatidos como sendo imprescindíveis. Sabemos que a maioria das crianças com fraco desempenho escolar, com dificuldade de atenção e concentração, e ainda as mais violentas, habitualmente não dormem bem. Há quem defenda que o crescente número de crianças, com alterações de concentração/atenção, se deve a anos de más práticas de sono. É, pois, muito importante, incutir bons hábitos de sono, desde muito cedo.
O “sono” dos filhos é um dos temas habituais nas consultas de pediatria. Muito fácil de aconselhar, por nós pediatras, mas muito difícil de executar por parte dos pais, porque os maus hábitos na sua maioria já estão instalados e, portanto, difíceis de mudar. Frequente é a recusa da criança em se deitar sozinho, devido a medo da separação dos pais, medo do escuro, em suma…insegurança!
O ritmo e os rituais de cada família, contribuem largamente para más práticas na hora de deitar, nomeadamente a visualização de programas de televisão, como telenovelas, reality shows, que em nada são adequados à idade das crianças (muitas vezes não os compreendendo ou imaginando que são “reais”), o uso excessivo de videojogos, os tablets e os jogos… mantendo-as excitadas, prejudicam não só a hora de deitar, como a qualidade do sono destas crianças.
Quantas horas devem dormir as crianças?
- Os Recém-nascidos dormem cerca de 22 – 23 horas por dia, com ciclos de sono/despertar cada 3 a 4 horas, relacionadas com as necessidades alimentares.
- Aos 3 meses dormem cerca de 16 a 18 horas
- Aos 12 meses dormem (ou devem dormir) 14 a 16 horas.
- Aos 3 anos dormem (ou devem dormir) de 12 a 14 h, das quais 2 são de sesta.
- Dos 3 aos 5 anos dormem (ou devem dormir) de 11 a 13h.
- Dos 5 aos 12 anos dormem (ou devem dormir) 9 a 11 horas.
- Dos 12 anos aos 18 anos dormem (ou devem dormir), no mínimo, 9 horas.
                                                                                    
 O que fazer para conseguir um Sono de maior duração e melhor qualidade?
 - Estabelecer um ambiente calmo em termos de som, iluminação e temperatura no quarto.
         - Estabelecer uma hora de deitar e cumpri-la sempre!!!
         - Estabelecer um ritual de sono (contar uma história, uma canção).
        - Na hora de dormir, transmitir muita afetividade (dizer que a ama, abraça-la…) para lhe transmitir segurança. Faça da hora de dormir, um momento de afeto.
        - Nas crianças até aos 3 anos, recomenda-se “um objeto de transição”, que pode ser um boneco, uma fralda, a chucha, com o objetivo de que se sinta segura.
       - Se acordar de noite com pesadelos, os pais devem tentar acalmar a criança, contudo se ela permanecer muito assustada, deve permanecer com ela ou leva-la para a cama onde dormem (esta é a minha opinião, não sendo consensual entre pediatras e psicólogos).

Uma forma de avaliar se a criança dorme o suficiente é observando o seu comportamento ao longo do dia, nomeadamente se apresenta irritabilidade constante, dificuldade em aceitar regras (por exemplo na escola), falta de apetite, etc.
Em suma, a má qualidade do sono interfere na memória, na capacidade de aprender e no comportamento. Gera irritação, falta de concentração, limita a capacidade de escutar e resolver problemas, leva a comportamentos agressivos e dificuldades relacionais com colegas, familiares e professores, provocando ansiedade.
A qualidade e quantidade correta do sono é determinante para o bom desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental das crianças.