domingo, 1 de maio de 2016

As consultas no Pediatra... Porque devemos fazê-las?

A medicina, como todos sabemos, está dividida por especialidades. 

A Pediatria é a especialidade que acompanha, estuda e trata as crianças. E esta consulta só é bem feita por um especialista... O Pediatra!!! Para muitos pais é normal levarem os seus filhos ao pediatra, principalmente nos primeiros anos de vida. Depois, conforme a criança cresce, "saltam" consultas porque acham que a criança "está bem" e não precisa de ir ao pediatra.

No entanto, a pediatria parte do princípio de que a criança está em pleno desenvolvimento, quer em crescimento físico, quer cerebral e portanto deve ser periodicamente avaliada pelo especialista - levar e manter as crianças ou os adolescentes às consultas do pediatra é uma atitude preventiva!

Ainda há pouco tempo, observei um adolescente de 16 anos que não ia à minha consulta desde os 13 anos e que na palpação testicular detetei uma anomalia, que, infelizmente se veio a revelar um cancro do testículo... (nas consultas no Centro de Saúde a que ia desde os 13 anos, os testículos não eram observados...!!!).

Também os casos de pais que "saltam" várias consultas (acham que as crianças estão bem...) e que retornam porque os seus filhos não apresentam boa saúde ou apresentam doenças que poderiam ser evitadas ou tratadas mais precocemente, caso tivessem acompanhamento regular...

Cada vez mais frequente, também, os pais que recorrem ao pediatra, com crianças aos 6, 7, 8 anos (crianças estas, que, na maioria, não são observadas há muito tempo por um especialista) por indicação da professora, por manifestarem insucesso escolar, numa fase já avançada. Provavelmente situações que seriam diagnosticadas de forma precoce se as crianças fossem acompanhadas pelo pediatra...

A consulta no Pediatra, avalia a criança no seu todo, mas também avaliar outros aspectos:

   - Familiar / Afetivo

O contexto familiar harmonioso é essencial para um bom desenvolvimento psicológico. Quando não existe é dever do pediatra alertar e detetar alterações do comportamento da criança para que não chegue a quadros mais graves e com sequelas futuras.

   - Obesidade

É muito difícil quando já está instalada... O objetivo é evita-la quer no ensino aos pais, quer nas crianças. Assisto, diariamente, a crianças obesas que são vítimas de bullying com auto-estima muito baixa... As sequelas podem ficar para toda a vida... Esta é uma das razões que fazem os pais "voltarem" ao pediatra!

   - Vacinas

É o pediatra que mais e melhor sabe de vacinas. É nas consultas de Pediatria que são explicadas e prescritas. Se forem realizadas na altura certa previnem, não só doenças, como podem evitar sequelas e morte...

   - Adolescência

Nesta fase, os pais entendem que já não é necessário ir ao pediatra... Enganam-se! Esta fase é, por definição, de uma grande mudança física, hormonal e psicológica. Torna-se assim essencial serem observados e esclarecidos em todas as suas dúvidas nesta fase para que se tornem adultos fortes, saudáveis e psicologicamente equilibrados.

Entre outros aspetos...

As consultas de Pediatria em termos de calendário devem ser realizadas:

1ª consulta até às 2 semanas de vida / Aos 2 meses / Aos 4 meses / Aos 6 meses / Aos 9 meses / Aos 12 meses / Aos 15 meses / Aos 18 meses / Aos 24 meses e depois anualmente até aos 18 anos e sempre que estejam doentes ou que os pais manifestem essa necessidade.

terça-feira, 15 de março de 2016

A Sarna voltou... e em grande...!

Sarna humana ou Escabiose, em linguagem médica, é uma parasitose que se apresenta como uma doença na pele (dermatose) devido a uma infestação originada pelo  ácaro Sarcoptes scabiei variante hominis, muito frequente na população pediátrica. Atinge todos os países, a nível mundial, sendo mais frequente nos países subdesenvolvidos.
É, altamente, contagiosa e difícil de tratar... 

Infelizmente, têm havido muitos casos, quer em adultos, quer em crianças, sobretudo nas que frequentam infantário!
Os surtos realizam-se, ciclicamente, cada 15 a 30 anos (estamos num surto) e dependem de muitos fatores:

- Hábitos de higiene
- Condições habitacionais
- Aglomerados habitacionais (neste momento muito comum em lares de idosos, infantários)  

Esta parasitose acontece em ambos os sexos e raças, assim como em todas as idades e em todos os níveis socioeconómicos.

Este parasita é exclusivo da raça humana, não sobrevivendo muitas horas noutros animais.

Período de Incubação

Os primeiros sintomas ocorrem 3 a 6 semanas depois do parasita se instalar, mas nas re-infestações, os sintomas reaparecem 1 a 3 dias depois.

Via de Transmissão (Contágio)

O contágio faz-se por contacto direto ou seja "pele com pele" infetada e é muito contagiosa.
Se o tratamento não for bem feito ou se não fizerem todos os que estão infetados, as recidivas são muito frequentes e muito mais difíceis de tratar.

Quadro Clínico

   - Comichão muito intenso, sobretudo à noite.
   - Nos bebés de 2-3 meses, muitas vezes não existe prurido
  - Atualmente existem casos que cursam sem prurido (formas atípicas).
 - Zonas de pele avermelhada (Eritema) ou zonas avermelhadas com rugosidade (Exantema), numa fase inicial
  - Com a evolução, surgem vesículas ("borbulhas") e papúlas ("pequenos altos"), com "vincos" escuros na pele ou "galerias" (são os túneis feitos pelo parasita).
   - Com a comichão sempre a aumentar, pode haver sobre-infecção com formação de pústulas.
   - Atinge mais as zonas entre os dedos, palmas das mãos, plantas dos pés, punhos, cotovelos, axilas, joelhos, nádegas, zona púbica

Tratamento

- Todos os contactos infetados devem ser tratados ao mesmo tempo (isto é de extrema importância para se erradicar a doença).
- Anti-histaminicos (Atarax, Fenistil gotas, etc) para diminuir a comichão.
- Medicamentos antiparasitários que actuam (directamente) no parasita:
·Permetrina a 5% . É o tratamento tópico ideal. Não é comercializado em Portugal, mas existem várias farmácias que fazem o "manipulado", quando prescrito pelo médico.
·Benzoato de Benzilo (Acaryl Bial). 
·Enxofre na formula de manipulado ou precipitado de 6 a 10% em vaselina, sendo a alternativa para bebés com idade inferior a 3 meses, mulheres grávidas ou a amamentar. 
·Ivermectina  comprimidos 
As crianças infetadas devem  manter-se afastadas das escolas/infantários durante todo o tratamento e só poderão voltar, após confirmação médica de que estão tratadas e curadas.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Crianças Hiperativas e Defice de Atenção (PHDA)

                                               
                                   
A PHDA ou Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção é uma diminuição ou ausência de controlo na criança.
 A criança hiperactiva é incapaz de controlar a sua atenção, impulsividade e actividade motora.

      -- Não é uma ausência de vontade para o fazer
      -- É uma ausência de controlo que efectivamente traz consequências.

A PHDA não é falta de concentração por falta de empenho ou um comportamento indisciplinado resultante da educação dada pelos pais.
A PHDA  é actualmente a “desordem mental” mais diagnosticada em crianças, estimando-se que 6 a 8%  de todas as crianças em idade escolar tenham PHDA
 Esta perturbação é cerca de seis vezes mais frequente nos rapazes do que nas raparigas.
As estatísticas indicam que cerca de 40% das crianças, diagnosticadas, deixam de ter sintomas durante a adolescência ou seja o cérebro, com a ajuda de factores ambientais, “encontra o caminho” para o normal desempenho e desenvolvimento.
Causas :
    -- Genéticas
Se um dos pais tiver sido "hiperactivo" tem 30% de hipóteses de ter um filho com PHDA
    -- Ambientais
  1. Nascimento Prematuro ou com muito baixo peso
  2. Asfixia no momento do parto
  3. Traumatismo cranianos
  4. Passar muito tempo a ver televisão ou a jogar jogos de consola/computador
  5. Falta de afectividade, de cuidados parentais...

No diagnóstico, o principal é ter em consideração o comportamento destas crianças que devem, forçosamente, englobar : 

·         -- Actividade excessiva (inquietação motora, agitação);

          -Distracção (dificuldade de concentração, atenção dispersa);


·        --  Impulsividade (tendência a agir sem reflectir).




 Quadro Clínico :
  • Dificuldade em terminar tarefas ou projectos
  • Facilidade em distrair-se
  • Dificuldade em concentrar-se
  • Problemas de organização e disciplina
  • Concentração aumentada quando a informação e/ou tarefa é interessante ou estimulante.
  • Inteligência acima da média mas com maus resultados na escola.
  • Maior facilidade em aprender com ajudas visuais ou através de movimento
  • Ansiedade /Impulsividade / Insatisfação
  • Bater com os dedos ou outros objetos como lápis na mesa
  • “Cabeça no ar”
  • Mudanças de humor ou disposição repentinas
  • Tiques nervosos

Tratamento :



      O tratamento desta perturbação é multidisciplinar e pode incluir acompanhamento médico, psicológico, pedagógico, apoio aos pais e tratamento farmacológico.
       O recurso à medicação só deve ser feito após uma avaliação médica especializada, incluindo o estabelecimento do diagnóstico.
      Dos medicamentos que, actualmente, são mais usados, salientamos os psicoestimulantes (Metilfenidato, Risperdona).
      O efeito dos psicoestimulantes consiste no aumento da capacidade de atenção/concentração, diminuição da impulsividade e da agressividade, melhorando as relações interpessoais e o desempenho da criança.
      O seu efeito surge logo nos primeiros dias, desde que a dose seja adequada. 
      As tomas são diárias, podendo ser feita uma interrupção do tratamento durante o período do fim-e-semana e das férias escolares, de acordo com a indicação médica.
      Actualmente, existem um sem número de crianças com PHDA ou Hiperativas e infelizmente algumas delas não o são... São crianças com falta de regras, a "fazerem tudo" o que querem, e que não estão habituadas a respeitar "ordens"... Infelizmente, assisto, diariamente, a estes comportamentos (desobediência, falta de regras, má educação) de crianças que nada têm a haver com PHDA, mas cujos pais acham ser PHDA...
      Todas as crianças, são activas, curiosas, exploradoras do que as rodeiam ou seja... Irrequietas... Isto é saudável e normal... O papel educativo dos pais, em contrariar, em dizer Não, em castigar, no fundo educar, deve estar presente, sempre...  

      Por último, relembro que a criança com PHDA é incapaz de controlar a sua atenção, impulsividade e a sua atividade na generalidade.

       Não é uma ausência de vontade para o fazer, mas sim uma ausência de controlo que traz consequências devastadoras para a vida da criança e familiar...