domingo, 22 de fevereiro de 2015

Cólicas no Recém-Nascido...que pesadelo!


As cólicas não são propriamente uma doença, é apenas um termo utilizado para descrever o choro inconsolável num bebé que é normalmente saudável. É importante salientar que nem todos os bebés agitados sofrem de cólicas. O choro também é uma forma de comunicação e de interação com os outros.

Ninguém sabe por que razão alguns bebés são mais sensíveis do que outros, mas teorias não faltam, embora certezas não existam…Felizmente, na grande maioria dos casos (95%) não existe uma causa orgânica identificável – as cólicas são um processo benigno e autolimitado.

As cólicas são um dos grandes mistérios da vida dos bebés…


Quando aparecem?

As cólicas são frequentes nos bebés entre os 14 dias e os 3 a 4 meses de idade (por vezes até aos 6 meses). Estes episódios ocorrem com maior frequência ao final da tarde ou início da noite.


Quadro Clínico


- Choro de características diferentes: alto, agudo e estridente, parecendo mais a gritar do que a chorar.

- Inconsolabilidade (muito difícil de consolar…).

- Contrações musculares (abdómen duro e distendido, mãos fechadas, pernas fletidas).

- Sinais de sofrimento, visível nas expressões faciais.



Razões para as cólicas

- Imaturidade ou hipersensibilidade do Sistema Digestivo

O sistema gastrointestinal dos recém-nascidos contém poucas enzimas (substâncias necessárias para decompor o leite, quer seja materno ou artificial), levando à produção exagerada de gases. O próprio choro leva a que o bebé engula mais ar, agravando as cólicas.

- Imaturidade do Sistema Nervoso

É uma forma de libertação física para os bebés, que se sentem confusos ao fim do dia, com tantos estímulos visuais, sonoros ou ambientais e choram para libertar o stress.

- Doenças alérgicas, como alergia às proteínas do leite de vaca, intolerância à lactose e outras alergias alimentares futuras.

- Alterações psicológicas, como hiperatividade, perturbações do sono futuras.

- Alimentação da mãe.

- Técnica de mamada inadequada, engolindo muito ar.

- Ansiedade dos pais / Conflitos familiares



Como ajudar o bebé com cólicas?

Medidas Gerais

- Calma e Controlo
Tão simples e tão difícil…! Fale com voz suave e doce (como se estivesse a contar uma história) ou cantar sempre a mesma melodia. Nunca esquecer que, apesar do desespero, nunca se deve abanar muito o bebé, por incutir mais ansiedade e risco de lesões cerebrais.

- Tentar que o bebé arrote o melhor possível (sentar o bebé no fim da mamada, numa superfície dura a 90ºC, dando pancadinhas nas costas, para facilitar o arroto).

- Tentar interromper o choro com um estímulo visual ou sonoro (som de um brinquedo, som da televisão ou rádio, músicas ouvidas na gravidez).

- Deitar o bebé de barriga para baixo no colo, transmitindo o calor do nosso corpo no abdómen.

- Fazer massagens na barriga do bebé no sentido dos ponteiros do relógio.

- Andar de automóvel pode ser uma boa técnica…


Medicamentos 

1. Plantas Medicinais
- Funcho, Camomila e Erva-cidreira (Colimil)

O tratamento com o Colimil tem como fundamento o efeito relaxante da musculatura lisa intestinal. Há um efeito muito positivo do funcho, nas cólicas, assim como nesta mistura, nos estudos efetuados.

Posologia: 1 a 2 frascos/dia na 1ª semana, seguindo 1 frasco/dia até as cólicas durarem.

2. Probióticos - Lactobacillus reuteri (Biogaia)

O fundamento do uso desta substância prende-se com o facto de no bebé com cólicas existir um aumento de bactérias prejudiciais (Gram -, como a E.Coli) e uma diminuição de Lactobacilos, resultando num aumento de gases e dor. O uso deste produto mostrou efeito benéfico nas cólicas, na maioria dos estudos efetuados.

Posologia: 5 gotas/dia, até as cólicas durarem.

- Lactobacillus rhammosus GG (Bivos)

As razões do uso deste produto são as mesmas do anterior. Também os estudos mostraram ser benéfico o uso deste medicamento nas cólicas.

3. Enzimas
- Lactase (Coliprev)

A lactase pode ser utilizada desde o nascimento e o seu fundamento baseia-se no eventual défice desta enzima fundamental para digerir a principal proteína do leite. Os estudos não são todos consensuais, no entanto existe benefício no seu uso.

Posologia: depende da idade do bebé, mas deve ser ingerida em todas as mamadas (não pode falhar) e sempre misturada com o leite, quer seja artificial ou materno (mais difícil - tem de se tirar da mama, misturar e dar à colher, por exemplo)

4. Fármacos
- Simeticone (Aero-OM e Infacalm ou Infacol)

Quase todos os pais têm Aero-Om, que usam, abusivamente na minha opinião, com o intuito de “calar” o bebé quando chora…! No entanto, não deixa de não ser um fármaco e o seu uso tem regras.
Em relação ao Infacalm a substância ativa é a mesma, mas em dosagem diferente. Quanto ao Infacol, não existe cá, mas é igual aos anteriores em relação à substância química mas com dosagem diferente.
Posologia: Varia, consoante o produto.

- Propinoxato (Vagopax)

Atua no intestino, inibindo a contratura (espasmos intestinais) e como tal, melhora as cólicas. Designado medicamento antiespasmódico, não deve ser dado sem prescrição médica.


Evolução das Cólicas

Tal como vêm, as cólicas também desaparecem, sem aviso, de um dia para o outro. A grande maioria deixa de ter sintomas após os 3/4 meses. No caso do aleitamento materno, a dieta da mãe deve ser rica e variada (por exemplo, a mãe está a comer um alimento, qualquer que seja, e apetece-lhe mais, não deve… come outra coisa diferente). As couves, as comidas muito condimentadas, o chocolate, as bebidas gaseificadas devem ser evitados. Nos bebés alimentados com leite artificial, uma mudança de marca ou com outras características (AC, AO, AR, HA), na maioria das vezes melhora.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

O meu filho não gosta do(a) Pediatra

O choro intenso das crianças, nas consultas de Pediatria, é uma realidade muito comum… (como dizia um colega meu de outra especialidade que dava consulta no gabinete ao lado do meu: “…Tu és uma péssima vizinha, muito, muito barulhenta…!!!”).
Pois é, os meninos choram, choram, gritam e os pais ficam desorientados e tristes…! Se o pediatra não lhes faz mal, então porquê aquele comportamento, ás vezes, de verdadeiro pânico…??? Vamos tentar, então esclarecer este mistério.
Habitualmente, até aos 6 meses, quase todos se “comportam bem”, chorando só quando os agarramos com mais pressão (observar os ouvidos, boca, etc.). A partir dos 8 a 9meses, começa, então, o choro… 
É aqui, nesta idade, que as crianças começam a tomar consciência que estamos a invadir o seu espaço (como ninguém, à sua volta lhes faz!), despi-los, agarra-los, manipula-los, sobretudo com a conivência dos pais (as pessoas de maior segurança que a criança tem…!!!). Por muito que os pais lhes expliquem (durante a observação), que é para o bem deles, que ninguém lhes faz mal, nada nem ninguém os convence…No entanto é mesmo necessário, porque na verdade, não há outra maneira de serem observados.
Não é fácil para eles, acreditem…! Desde esta idade (8 a 9 meses e até aos 30 a 36 meses, conte com muito choro, muita raiva e revolta. Contudo, como costumo dizer nas minhas consultas : “A partir dos 2,5 anos a 3 anos, fazemos as pazes para todo o sempre… E nasce uma história de amor…” Tenho meninos que inventam dores e doenças para irem à “Tia Paula”…!
Aqui ficam alguns conselhos para tentar minimizar o sofrimento dos meninos na fase da “tortura”:
- Nunca minta à criança (por exemplo, dizendo “hoje só vimos conversar, a “tia Paula” ou a doutora, não te vai mexer…!!! Mentira!)
- Nunca ameace a criança, quando se porta mal, que, como castigo, vai ao médico e leva uma “pica”…!!!
- Não diga com muita antecedência que vai ao médico, evitando, assim, ansiedade à criança e fazendo com que ela comece a imaginar e fantasiar cenários de terror em relação à consulta.
- No momento da consulta, aja com calma e paciência. Explique a necessidade de levá-la ao médico e que nada é para o mal dela.
- Transmita segurança com voz calma mas firme e sobretudo não demonstre ansiedade.
Acredite que a fase seguinte, a das “pazes” é mesmo muito compensadora em termos afetivos, para mim (médico), para a criança e para os pais…

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A Temperatura do quarto da criança e o agravamento dos sintomas respiratórios

A importância da temperatura do quarto, interfere em várias vertentes, desde a qualidade do sono (não dorme bem, pode acordar muitas vezes), ao conforto da criança, e sobretudo nesta estação fria, pode levar a um agravamento ou não dos sintomas respiratórios. Por ser Inverno, as crianças não têm que ser vestidas, para dormir, com múltiplos pijamas, camisolas e casacos...torna-se muito desconfortável, num período de descanso, no qual o conforto é essencial.

Em primeiro lugar, a qualidade e a quantidade das horas de sono das crianças influencia todo o comportamento destas ao longo do dia. Assim, uma má noite de sono (poucas horas de sono ou sono interrompido várias vezes por desconforto, como frio) leva, na maioria dos casos, a que as crianças estejam irritadas, “birrentas” e sem apetite. Motivos, mais que suficientes, para “aquecermos” o quarto.
Outro aspeto igualmente importante é o banho da criança (muitos pais dão banho no quarto) - não esquecer que a criança está despida e desprotegida, sendo a perda de calor corporal muito maior, além de estar molhada.
Finalmente, em relação aos sintomas respiratórios e a influência da temperatura do quarto, infelizmente, a maioria das casas têm mau isolamento (deixam entrar o frio) e por isso são muito frias e frequentemente húmidas. Estes 2 fatores são decisivos para o agravamento ou melhoria da maior parte dos quadros respiratórios (tosse por acessos, obstrução nasal, espirros, “ranho” no nariz, respiração ruidosa, farfalheira e até “pieira” ou dificuldade respiratória).
Em pleno Inverno, a temperatura no interior das casas (sem aquecimento), dificilmente, é superior a 15ºC (quando não é mais baixa…!). Durante a noite, desce seguramente para 8ºC / 10ºC, e é essa a temperatura que a criança respira. Ora, se estiver com um quadro respiratório (inflamatório), o ar “frio” que é inalado desencadeia uma reação de defesa do organismo (na tentativa de “aquecer” esse ar), provocando maior produção de muco nasal (“ranho”), desencadeando acessos de tosse, muitas vezes persistente e até provocando vómitos. Daí, ser muito frequente, as crianças agravarem os sintomas durante a noite e até arrastarem durante muito tempo estes quadros, (semanas, meses por vezes…), às vezes, para preocupação dos médicos assistentes, que não percebem a evolução, apesar do tratamento correto…

Qual é a temperatura ideal do quarto?

Deve estar entre 18ºC – 22ºC. O aquecimento pode ser feito de diversos modos e tipos (ar condicionado, aquecimento central, aquecedor “a óleo”). Nunca deve aquecer o quarto com  lareiras, salamandras, braseiras, pelo risco de intoxicação por monóxido de carbono. O ideal será, sempre, evitar que no período noturno, a temperatura baixe demasiado, dentro do quarto. Costumo aconselhar, colocarem um aquecedor “a óleo” no mínimo, toda a noite, evitando assim a descida acentuada da temperatura.